Com a chegada do outono e a queda das temperaturas, aumentam os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), afetando principalmente crianças menores de cinco anos, mais vulneráveis nesse período. A maioria dos casos é causada por infecções virais, como a bronquiolite. O Centro Materno Infantil (CMI) de Contagem já registra um aumento na procura por atendimentos, refletindo uma tendência sazonal observada todos os anos.
Entre os sintomas mais comuns estão obstrução nasal, coriza, tosse, febre e recusa alimentar. Em casos mais graves, podem surgir chiado no peito, sonolência e até cianose, coloração arroxeada nos lábios e extremidades. Ainda segundo a especialista, o diagnóstico é clínico e não requer exames complementares. Na maioria dos casos, o tratamento é feito em casa, com lavagem nasal, hidratação e controle da febre. Casos graves podem exigir hospitalização e suporte respiratório.
Para Geovanna Maria, mãe de dois filhos, a bronquiolite não é novidade em sua rotina. Seu filho mais velho, hoje com dois anos, teve a doença aos cinco meses de vida. Como era “mãe de primeira viagem”, ela só descobriu que a suspeita de gripe, na verdade, se tratava de bronquiolite após receber orientação médica. “Quando cheguei ao hospital, a médica examinou meu filho e me alertou sobre a importância de observar a respiração dele. Tanto o pescoço quanto a barriguinha afundavam, sinalizando um grande esforço para respirar. Agora, quando o meu caçula começou a apresentar sintomas parecidos com os de uma gripe, reparei o mesmo padrão de respiração. Vim para cá, fui prontamente atendida e recebi a confirmação de que era bronquiolite”, relata.
De acordo com a referência técnica médica da enfermaria pediátrica do CMI, Lorrane Seabra, a bronquiolite é uma infecção viral que atinge os bronquíolos, estruturas delicadas do pulmão dos bebês. O principal causador da bronquiolite é o vírus sincicial respiratório (VSR), mas outros, como rinovírus, influenza e adenovírus, também podem provocar a doença. “A bronquiolite aguda é uma doença com sintomas inicialmente leves, mas que podem evoluir rapidamente para um quadro de insuficiência respiratória e até mesmo o óbito”, explica a pediatra.
Prevenção e novas tecnologias de imunização
Para reduzir o risco de infecção, a orientação é evitar aglomerações e contato com pessoas com sintomas gripais. Uma das estratégias mais promissoras é a vacina Abrysvo, aplicada em gestantes entre a 24ª e a 36ª semana de gestação, que promove a transferência de anticorpos para o bebê.
Os pais também podem ajudar no alívio dos sintomas com medidas simples, como lavagem nasal com soro fisiológico, elevação da cabeceira durante o sono e controle da febre. A atenção aos sinais de gravidade é essencial para evitar complicações.
A novidade é o nirsevimab, anticorpo monoclonal de dose única, que demonstrou alta eficácia na prevenção do VSR. Segundo a pediatra Lorrane Seabra, o nirsevimab está indicado para todas as crianças com menos de um ano de idade durante o período de sazonalidade do vírus e já foi aprovado para futura incorporação ao SUS.
Dados apontam alta demanda entre crianças menores de 5 anos
O boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mostra que o Centro Materno Infantil (CMI) notificou 232 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) até a primeira semana de abril de 2025. Destes, 75% ocorreram em crianças com menos de 5 anos. Em 2024, foram registrados 996 casos de SRAG ao longo de todo o ano.
No mesmo período de 2025, foram também notificados 136 casos de Síndrome Gripal (SG) na unidade. Os vírus mais frequentes identificados nos casos de SRAG foram o rinovírus (48,3%), o Vírus Sincicial Respiratório – VSR (19,7%) e o metapneumovírus (12%). Foram registrados ainda 13 casos de codetecção viral, quando dois ou mais vírus são detectados em um mesmo paciente.
A maioria das internações por SRAG ocorreu na Enfermaria Pediátrica (EP), responsável por 80,6% dos casos, seguida pelo Centro de Terapia Intensiva Pediátrico (CTI Pediátrico), com 8,1%. No Pronto Atendimento Pediátrico (PA Pediátrico), 21 crianças foram atendidas, mas não houve necessidade de internação hospitalar.
Dados da nova diretriz da Sociedade Mineira de Pediatria de 2025 revelam que anticorpos monoclonais têm ganhado destaque na prevenção. O imunizante palivizumabe, já ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é um deles, porém, apenas em casos específicos, como prematuridade extrema ou em crianças com cardiopatias congênitas. Dados da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC) mostram uma redução de 74,5% nas infecções graves por vírus sincicial respiratório após o uso da vacina.